Eu já tinha tentado outras coisas. Outras que, como essa, pareciam que iam dar certo, mas no fim foram muito iguais. Já tinha tentado várias vezes me dilacerar pra procurar entre os destroços algo que servisse pra te agradar. Já tinha tentado me servir de pratos que você nunca fosse experimentar, para que desistisse de se aproximar de mim.
Tentei fugir, pensei em ficar. Quis ligar, mas depois desisti. "Vocês, mulheres, têm que acabar com esse pensamento machista de que só nós que temos que ligar". Então liguei...mas você não pôde ou não viu ou não quis me atender.
Por fim deitei. Quis dormir e esperar que finalmente o outro dia chegasse pra clarear minhas frustradas tentativas.
Quando finalmente cheguei a pensar que era você quem chamava ao telefone que tocava aos berros, alcancei o despertador e o desliguei. Mal tinha dormido e, nem percebi que na verdade era sonho.
Você não ligou. E nem ia ligar...mas a esperança custa a cansar de esperar.
E eu esperei por mais aquele dia, esperei que você enfim recebesse uma luz que lhe diria como ler meus pensamentos mesmo longe de mim.
E eu ouvi. Ouvi meus pensamentos gritando na minha cabeça como quem não conseguia mais viver preso ali. Tentei libertá-los mas em vão. Desvaneciam-se ao tocar o calor do meu hálito recentemente fresco por uma hortelã artificial.
Você não os entendia...e esse era o único motivo deles existirem.
Em vão.
Abracei meu travesseiro que, desde a noite anterior, me acompanhava calmo e paciente.
Ele me entendia. Talvez fosse o único naquele quarto capaz disso. E esse fato o tornava a pessoa mais sensata que eu pude encontrar nos últimos dias.
Mas eu não queria sensatez. Queria você com suas loucuras mesmo. Com suas piadas sem graça, com seu tédio, suas manias bregas, seus comentários altamente dispensáveis. Com todos aqueles detalhes que eu sempre disse odiar. Eu não queria julgar ou contar os seus defeitos, mas bom ou mau, queria você perto de mim. Pra me dizer por que não veio ou por que não ia. Por que não queria ou por que não agora. Pra me dizer, quem sabe, um simples bom dia. Pra que eu escutasse a sua voz ou visse o seu sorriso. Pra que seu riso não fosse um som distante de uma lembrança mais distante ainda.
Pra que não fosse como é.
Mas nós somos assim, e não há razão para sermos.
Somos porque é assim que queremos ou é assim que conseguimos.
Somos assim pra fingir pros outros o que não queremos que achem que somos.
Fingimento.
Estamos fingindo um pro outro e isso dói. Até que a gente perceba que é preciso fingir, dói.
E dói também pra entrar no fingimento, mas a verdade é que sem falsidade não há vida e também não há sem amor.
Mas a gente finge que pode ser feliz assim e se mete em mais umas 3 ou 4 besteiras...a gente gosta de ser bobo.
A gente gosta de se enganar.
E continuamos nos enganando - ou começamos a nos enganar verdadeiramente.
Sabemos que não vai muito longe (eu sei), mas queremos ver aonde que vai dar.
A gente sempre quer ver no que vai dar.
Mas, verdadeiramente, hoje eu quero te enganar...mas mais do que isso, eu quero que você me engane. Quero que você minta pra mim que eu não estou em meu quarto escrevendo besteiras pra passar o tempo e pra ver se passa a saudade que eu sinto de você. Quero que você minta que eu estou só. Que estou sem você e que tudo não passará de uma lembrança que um dia será vaga, remota, distante...
Minta pra mim, por que é somente disso que eu preciso agora!
Um comentário:
Estou me sentindo essa Cíntia hoje, só que misturada com uma Maria Tereza que eu nem conheço... Hã! Como se conhecesse a outra!
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