quinta-feira, 15 de julho de 2010

Fases. (mais uma delas)

Às vezes é muito difícil escrever as coisas.
Eu, por exemplo, odeio escrever quando sei que alguém está lendo. Não importo de lerem o resultado. Mas o processo.
É assim com todo processo. Também não gosto muito quando me vêem construindo uma cena.
Não sei porque, só sei que é assim. No melhor estilo Chicó de ser.

Certas ocasiões fazem a gente (re)pensar muitas coisas.
Agora eu vejo que é hora de pensar na próxima geração.
Não, eu não estou pensando em ter filhos. 
(Aliás, cada vez que uma amiga próxima me diz que está grávida eu tenho a enorme impressão de que algo está errado. Talvez seja eu que ainda não percebi que cresci.)
A próxima geração em questão é minha mãe.

Eu não sei como ela vai reagir a tudo, no final das contas. Por experiência, parece que quando se perde os pais, velhinhos, e se tem os filhos já criados (ou quase), as coisas perdem o sentido.
Não se tem muito por quem fazer as coisas, por quem ficar forte, alguém que dependa diretamente da gente.
Acho que deve ser isso. Ou mais ou menos isso.

Por essa razão, eu quero ter a consciência de que eu sou a pessoa por quem eu mais tenho que lutar, ainda que não haja outras pessoas que aparentemente necessitem de mim.
Por outras razões eu escolhi que, se for pra viver até bem velhinha, que eu tenha bastante saúde, mas se for pra escolher entre as heranças genéticas disponíveis, quero Alzheimer.
Por esse motivo, devo começar uma poupança que garanta meus remédios caros quando eu não mais puder trabalhar.
(E também espero que até lá seja realmente descoberta a cura!)

Não quero viver pra sempre. Perder as pessoas que você ama uma a uma é muito difícil. 
Imagina você vivendo pra sempre e vendo todos indo embora?? Definitivamente não é o que eu quero.

Mas também, da mesma forma que não quero sofrer, também não quero fazer as outras pessoas sofrerem.
Não sei se meu(s) filho(s) terão a oportunidade de cuidar dos avós dele (pelo menos os maternos), coisa que eu farei questão que eles me ajudem, se puderem.
É importante que eles saibam, aprendam e se acostumem para quando for a vez deles de ensinar os filhos a cuidar de mim e do pai deles.

Talvez o melhor ensinamento que um pai pode dar seja como tratar seus avós e como cuidar deles quando eles passam a ser filhos novamente.

Durante esses dias eu tenho tido vontade de escrever várias coisas. Mas todas as ideias começam e logo se esvaem, talvez pelo vício do Twitter, talvez porque a cabeça está cheia de mais de outras coisas...talvez)
Agora que parei pra finalmente escrever, sai esse texto enorme e talvez sem muito sentido para quem o lê.

Nesses dias em que vejo, pouco a pouco (às vezes nem tão pouco assim) minha vó ir embora.
Nesses dias em que fico me recordando, diariamente, da morte do meu avô.
Nesses dias em que seria legal ter alguém pra conversar que não esteja também absorto em preocupações, mas que ao mesmo tempo aquela coisinha que fica lá dentro de mim e que só os amigos mais próximos conseguem enxergar e que me faz querer ser/parecer/sentir mais forte do que realmente sou e consequentemente falar menos de mim, não permite.
Nesses dias em que sensações estranhas passam por nós e pensamentos esquisitos se fazem presentes.

Ninguém sabe como têm-se que se sentir. Ninguém, aparentemente, pensa nisso.
"Tem-se que" qualquer coisa?

"Nada que "tem que" pode ser bom."

No final desse texto que parece não ter fim e que cada parágrafo parece ser o último.
No final desse ciclo em que cada dia parece ser o último e todas as energias se consomem como se não houvesse amanhã.

Eu nem sei mais o que fazer nem se tudo o que eu disse tem sentido.
Tenho uma cama num quarto transformado em hospital para dormir.
Ela me espera para arrumá-la com meus cobertores e travesseiro que a noite passada estiveram no sofá.
(Há uma linha tênue entre respeitar seus limites e ser covarde)
E tem coisas que simplesmente não se pode evitar.

Boa noite com desejo de sonhos bons e sono eficiente para todos. Menos para a enfermeira (mas não é nada pessoal, é claro!)

[Arrebatador / Vem de qualquer lugar / Chega, nem pede licença / Avança sem ponderar]